quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Hora do Exercício – Escrever é Reescrever

Esse post é pra quem quer se aventurar na escrita, como eu, que gosta de brincar de escrever. Um dia alguma coisa minha vem parar aqui. Bem, espero que sirva de alguma coisa, como serviu para mim. Valeu Dr.Careca!!!

Em primeiro lugar “a César o que é de César”: quem disse “escrever é reescrever” – ou pelo menos o autor do texto onde li esta frase pela primeira vez – foi Stephen King, não eu.
Enfim, “escrever é reescrever” e você vai se lembrar desta frase para o resto da vida, ou deveria.
A maioria dos escritores principiantes (como se eu não fosse) – e talvez este seja um dos fatores que dividem “os meninos dos homens”, digamos assim – acha que escrever é o simples ato de arrancar uma idéia das profundezas do cérebro, jogar no papel e mostrar para o primeiro infeliz com boa vontade que aparecer pela frente (eu faço isso...). O que, nos tempos modernos em que vivemos, significa mandar por e-mail para todos os seus amigos, enviar para um grupo de escritores amadores no Orkut (ou em fóruns e listas de discussão) ou postar em um blog bem parecido com este aqui.

Sinto muito, meninos e meninas, mas não é assim que a coisa funciona. Ou melhor: é assim que a coisa funciona, mas não é como deveria funcionar.

Quando se começa a escrever uma história, a coisa flui de uma maneira cru. Não é o momento para conter idéias, se preocupar com estrutura ou erros de português. É vomitar no papel mesmo. Só que este “vômito” não é sua história. É algo bruto que precisa ser lapidado.

Com a idéia no papel é hora de esquecer que ela existe. Feche o arquivo e ignore-o por uns dias. Há grandes chances de que você se empolgue e queira fazer uma primeira revisão logo após ter escrito sua primeira versão, mas tente se segurar. Nessa hora a gente ainda está apaixonado demais pelas próprias idéias para ter a frieza e o olhar clínico necessários para diagnosticar seus defeitos.

Passado este tempo, retome a história. Agora sim é hora de arrumar os erros de português e organizar a estrutura dos parágrafos. É normal acrescentar novas passagens, aperfeiçoar diálogos, inserir novas idéias e plantar plots que poderão se desenvolver mais para a frente. Feito isso, feche o arquivo e esqueça-o de novo.

Repita o processo alguns dias depois e quantas vezes forem necessárias para que você possa olhar seu texto e ter certeza de que ali está algo bem próximo do ideal. Não acho que exista uma fórmula capaz de indicar uma quantidade exata de revisões. Varia de obra para obra, de autor para autor.

Como nenhuma dica funciona sem um exemplo prático, aqui vai algo:

- Primeira Versão

Dessa vez não sei o que aconteceu. Mas não foi comoquando entrei na arca.Havia um caminho de pedras. Isso eu podia ver. Mas não havia placas de sinalização nem casas na beira da estrada. Também não vi plantações ou bichos correndo pra lá e pra cá. A chuva tinha voltado mas, naquela altura do campeonato já não fazia mais diferença mesmo. Minhas roupas já estavam mais do que ensopadas, cortesia di mergulho involuntário pouco tempo antes. E o pior é que eu tinha fome.


- Segunda Versão

Dessa vez não sei o que aconteceu. Mas não foi como quando entrei na arca, disso tenho certeza. Nada de sensação de estar caindo. Nada de luzes. Nada de nada, para falar a verdade. Acho que o que aconteceu quando entrei no caldeirão foi que apaguei.

Acordar foi uma experiência gradual. Primeiro um zunido bem lá no fundo. Depois a percepção de estar deitado, a sensação de gotas caindo na minha cara e finalmente a constatação de que estava deitado na grama à beira de uma estrada de terra enlameada. A colher de ferro firme na mão direita e o medalhão vagabundo pendurado no pescoço.E na chuva. E ensopado.

Onde, exatamente? Ótima pergunta.

Não havia nenhuma placas indicando qualquer caminho. nem casas por perto. Também não vi plantações ou bichos correndo pra lá e pra cá. A primeira coisa que pensei é que em poucos minutos algum grupo de bandidos ou monstros ia aparecer do nada pelo simples fato de eu estar no meio do caminho de não sei onde para lugar nenhum. Afinal, isso é o que a gente ouve falar que acontece com quem se mete nesse tipo de idiotice. Mas para a minha felicidade e para a infelicidade de quem ouve essa parte da história, nada demais aconteceu. Não naquele exato momento pelo menos.


- Terceira Versão

Dessa vez não sei o que aconteceu. Mas não foi como quando entrei na arca, disso tenho certeza. Nada de sensação de estar caindo. Nada de luzes. Nada de nada, para falar a verdade. Acho que o que aconteceu quando entrei no caldeirão foi que apaguei.

Acordar foi uma experiência gradual. Primeiro um zunido bem lá no fundo. Depois a percepção de estar deitado, a sensação de gotas caindo na minha cara e finalmente a constatação de que estava deitado na grama à beira de uma estrada de terra enlameada. A colher de ferro firme na mão direita e o medalhão vagabundo pendurado no pescoço. E na chuva.

Onde, exatamente? Ótima pergunta.

Não havia nenhuma placa indicando qualquer direção ou local. Nem casas por perto. Também não vi plantações ou bichos correndo pra lá e pra cá. A primeira coisa que passou pela minha cabeça foi algo que ouvi uma vez em uma conversa do meu pai com um taverneiro em Altrim: se você se vê sozinho em uma estrada desconhecida, é só uma questão de tempo até que meia dúzia de monstros bizarros apareçam literalmente do nada para te atacar, roubar, destroçar e mais uma porção de coisas desaconselháveis para qualquer pessoa que pretenda ter uma vida longa e saudável. É como uma daquelas leis místicas ou divinas que regem o mundo e foram criadas sabe-se lá por que ou por quem.

- Quarta Versão

Dessa vez não sei o que aconteceu. Mas não foi como quando entrei na arca, disso tenho certeza. Nada de sensação de estar caindo. Nada de luzes. Nada de nada, para falar a verdade. Acho que o que aconteceu quando entrei no caldeirão foi que apaguei.

Acordar foi uma experiência gradual. Primeiro um zunido bem lá no fundo. Depois a percepção de estar deitado, a sensação de gotas caindo na minha cara e finalmente a constatação de que estava deitado na grama à beira de uma estrada de terra enlameada. A colher de ferro firme na mão direita e o medalhão vagabundo pendurado no pescoço. E na chuva.

Onde em Arton, exatamente? Ótima pergunta. Não havia nenhuma placa indicando qualquer direção ou local. Nem casas por perto. Também não vi plantações ou bichos correndo pra lá e pra cá.

A primeira coisa que passou pela minha cabeça foi algo que ouvi uma vez em uma conversa do meu pai com um taverneiro em Altrim: se você se vê sozinho em uma estrada desconhecida, é só uma questão de tempo até que meia dúzia de monstros bizarros apareçam literalmente do nada para te atacar, roubar, destroçar e mais uma porção de coisas desaconselháveis para qualquer pessoa que pretenda ter uma vida longa e saudável. É como uma daquelas leis místicas ou divinas que regem o mundo e foram criadas sabe-se lá por que ou por quem.

Percebam como o texto vai do caos da primeira versão e passa por mudanças sutis de termos, idéias e quebras de parágrafos até chegar à versão definitiva.

Se você acha difícil adquirir o hábito da revisão, aqui vai uma dica: compre um caderno, uma caneta (lápis, nunca) e passe a usá-los na hora de escrver a primeira versão de seu roteiro ou conto. Isso vai obrigá-lo a reler o texto na hora de passar para o computador, garantindo ao menos uma revisão.

O que já é muito bom, mas ainda está longe do ideal.

PS. o texto deste artigo foi revisado cinco vezes, antes de ser postado.;)

Ate a proxima jovens!

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