domingo, 24 de janeiro de 2010

MOSTROS

Lugosi está morto, e eu também. O que resta dele está apodrecendo em algum lugar num caixão de pinho, enquanto eu tenho a oportunidade de estar sentado aqui no terraço, apreciando minha bebida e olhando para você. Corrija-me se eu estiver sendo presunçoso, mas acho que tive um fim melhor que o dele.

Só de olhar, posso dizer que você não está entendendo. Claro que não — estamos numa época cínica e racional, e você não vai acreditar que eu sou um defunto só porque estou dizendo. Há um século isso seria diferente — pelo menos da última vez que tive essa conversa com alguém, foi bem diferente — mas esta é a era dos fatos. E os fatos dizem que cadáveres não se movem, não andam e não falam. Sinto muito, minha querida, mas tenho uma surpresa para você: este cadáver aqui o faz.

Então se sente. Por favor, eu insisto que você fique confortável. Sirva-se de algo para beber, de preferência da jarra á esquerda — a da direita possui um sabor excêntrico. Esta será uma longa noite, e creio que você vai precisar de uma bebida forte. Ou até mesmo duas. Nas próximas horas, vou explicar-

lhe, com detalhes insuportáveis, porque tudo o que você pensa e sabe sobre a vida e a morte está errada. Em outras palavras, você não sabe coisa alguma sobre a maneira como o mundo realmente funciona, e eu vou abrir os seus olhos. Mas temo, minha querida, que você não vai gostar do que vai ver.

O Que Sou

Antes de prosseguir, permita-me dizer que você está tendo uma oportunidade única.

Minha espécie não fala sobre si mesma para a sua — nem agora e,

na maior parte das vezes, nunca.

Possamos os últimos cinco séculos preparando a cortina e a ribalta, que chamamo

s “A Máscara”, para esconder de vocês o verdadeiro espetáculo. Mas, no fim, tudo se resume a um simples e único fato: nós, vampiros, não queremos que vocês, mortais, saibam que estamos por aqui. E a mesma razão pela qual os lobos não querem que os carneiros saibam que eles

estão por perto. Isso torna o nosso trabalho muito mais fácil. Assim, ainda que sejamos realmente dotados dos caninos afiados com os quais os melodramas

e filmes baratos nos estigmatizaram, vocês não os verão a menos que decidamos mostrá-los. Como agora.

Você está pálida, minha querida. Isso é ruim se nós queremos ser vistos mais tarde.

Permita-me cuidar de nossa palidez. No entanto, devo admitir que esteja desapontado pelo fato de você estar tão perturbada com a idéia de eu ser um vampiro. Respire fundo e tente se controlar, se puder. Verdade seja dita, temo que este seja o menor dos impactos que a aguardam esta noite. Por favor, não desperdice seu tempo tentando elaborar uma explicação racional ou científica, porque ela não existe.

Eu sou simplesmente o que sou. O que muitos e muitos de nós somos — e somos até demais, segundo algumas contagens.

Maldição, você e mesmo tola a esse ponto? Fique sentada. Eu disse sente!... Agora veja.

Calma, pare de gritar. Ninguém virá salvá-la e ninguém vai chamar a policia — não neste edifício. Vizinhos discretos é uma benção para pessoas na minha situação. É realmente vitoriana a maneira como eles ignoram qualquer coisa que não esteja claramente diante de seus olhos.

Então, finalmente conseguiu a sua prova. Agora você acredita em mim? Sim, é sangue na jarra da direita, que ao ser servido gelado como a outra, acaba por perder muito de seu sabor.

Você pode beber dele se quiser, mas não, eu não recomendo. Você não está acostumada a apreciar essas coisas, pelo menos não ainda. Não se precipite tentando adivinhar minhas intenções, minha cara. Se eu fosse agir de acordo com seu querido clichê, você já estaria morta. Afinal, eu sou um predador, e tanto você quanto toda a sua espécie é minhas presas....

Continua...

Chega de vampiros emos...



Um comentário:

  1. é Lugosi maluco!! Lugosi!! agora ele se revirou no caixão... literalmente!!!

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